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quarta-feira, dezembro 06, 2006



do barco já é possível sentir o perigo que se aproxima. todos têm medo. adiante, a areia pintada de vermelho. rajadas incessantes cortam o ar e ferem a carne dos infortunados. fogo amigo, fogo inimigo, náuseas, afogados. você tem 20 anos. os amigos com quem fumava minutos antes ficaram para trás, nem chegaram a pisar em solo francês. você corre, entre zunidos de projéteis, barricadas, gemidos e corpos. encontra uma cova e nela se abriga. prepara a metralhadora, aponta para o inimigo e dispara. lembra do salmo: "mil cairão ao teu lado, e dez mil à tua direita, mas você não será atingido." você sabe que muito dependem de você e que amigos tombaram para que você conquistassem a sua posição. muitas coisas passam pela sua cabeça enquanto atira. lembra da mãe, da namorada, sente cheiro de sangue quente, medo, raiva do alemães, tristeza, ansiedade, lembra do último carteado antes da missão e dos 10 dólares apostados que não precisará pagar. a única coisa que não passa pela sua cabeça é que 60 anos depois você, rapaz comum, anônimo, será lembrado pelo seu feito extraordinário.

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