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sábado, maio 20, 2006



responda-me se puderes: o evo não se parece com o finado zacarias? bem, pelo menos uma coisa ele tem em comum com o saudoso comediante: também sabe fazer trapalhada.

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quarta-feira, maio 10, 2006

Take the quiz:
Which LOST character are you?

Locke
You are Locke You are the Ambassador of the island. You can be a wierdo at times, but you know more than anyone else.

Quizzes by myYearbook.com -- the World's Biggest Yearbook!

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segunda-feira, maio 01, 2006

AVE CHEIA DE GRAÇA.
AVE CHEIA DE AMOR.
SALVE OH MÃE DE JESUS!
A TI NOSSO CANTO, O NOSSO LOUVOR.

Mãe do criador, rogai!
Mãe do Salvador, rogai!
Do libertador!, rogai por nós.

Mãe dos perseguidos, rogai!
Mãe dos oprimidos, rogai!
Dos desvalidos, rogai por nós.

Mãe dos bóias-frias, rogai!
Causa da alegria, rogai!
Mãe das mães-Marias, rogai por nós!

Mãe dos humilhados, rogai!
Dos martirizados, rogai!
Dos marginalizados, rogai por nós!

Mãe dos despojados, rogai!
Dos abandonados, rogai!
Dos desempregados, rogai por nós!

Mãe dos pecadores, rogai!
Mãe dos sofredores, rogai!
Dos agricultores, rogai por nós!


Sábado, 7h da noite. As ruas da cidade Alta estão lotadas. Um forasteiro, deslocado das tradições locais, diria estar diante de torcedores ávidos pela abertura dos portões do estádio de futebol. A constatação se desmancharia sob as luzes das velas carregadas por muitos daqueles homens. Todos esperavam os sinos da Catedral Metropolitana anunciarem o começo da Romaria dos Homens. Eu era um dos milhares em trajes de estádio, ansioso para conhecer a romaria cinqüentenária, e principalmente, obter resposta para uma questão que há muito me incomoda. Estavam todos ali aguardando para partir em um ato de fé ou interessados em algo profano? Desde minha infância ouço histórias de romeiros que faziam o percurso movidos a álcool. Pelo movimento da concentração, o percurso seria regado a água mineral, vendida a um real por ambulantes escandalosos.

A imagem da Romaria descendo a ladeira do Palácio Anchieta é bonita de se ver. De longe, as luzes saídas dos castiçais feitos de garrafa pet criam um rio brilhante. Lento, determinado e barulhento. Não falo da ladainha das beatas, conceito religioso incrustado no nosso DNA. Nem de calmas vozes masculinas em oração. Falo do barulho ordinário de uma multidão caminhando. São cumprimentos, conversas de trabalho, indagações sobre o resultado da rodada do Brasileirão. “O jogo ainda está de 1x0 ?”, perguntou-me um rapaz de vela e terço nas mãos. Eu nem sabia que o Fluminense fizera um gol. A informação foi útil, porque não foram poucos os que fizeram a pergunta ao notar a camisa por mim usada. Aos sons das vozes se juntava a narração da Romaria, transmitida a partir de uma rádio Católica. Músicas, trechos da Bíblia e sermões do padre saíam dos potentes alto-falantes de carros estacionados pelo caminho, aqueles mesmos que nos perturbam com propagandas nas ruas ou música em postos de gasolina.

Foi de um desses carros que ouvi do padre uma advertência relativa ao consumo de bebida alcoólica. Uma onda de fé arrebatou meu espírito. Passávamos pela região da Vila Rubim, zona de comércio popular durante o dia e mal freqüentada durante a noite. O cortejo chamou a atenção de moradores. Debruçados nas janelas de prédio fuliginosos, era o sinal de vida digna no bairro de ruas caóticas de dia e ermas ao cair a hora do rush. De uma dessas janelas uma menina de uns quatro anos saudou Nossa Senhora e foi respondida pela multidão que seguia abaixo, como o comandante diante da tropa de legionários.

A subida da segunda ponte dispersou a multidão. Eu estava bem no começo da fila, mais ou menos um quilômetro à frente da imagem da santa. Aproveitei a oportunidade para ver a paisagem. Primeiro o mar, depois o bairro miserável às margens de um canal imundo. De lá outra criança bradou a conhecida saudação: “Viva Nossa Senhora!”, gritou a menina. “Viva”, respondemos do alto da ponte. As pessoas lá embaixo pareciam felizes, a despeito do cotidiano áspero revelado por suas moradias.

A ponte ficara para trás e nada de álcool ou de pinguços. Alguns bares da avenida Lindenberg estava até cheios, mas não era possível afirmar se os freqüentadores eram romeiros ou não.

Eu já havia desistido de procurar cachaceiros quando uma cena chamou minha atenção. Uma barreira às margens da avenida se transformou em mictório, onde dezenas de romeiros ocuparam a faixa de aproximadamente 50 metros para aliviar as bexigas. Teriam bebido demais? O esforço da caminhada fazia o corpo eliminar água sob a forma de suor. Aquilo era um bom sinal. A cena se repetiu outras duas vezes, mas não houve nenhum outro fato que confirmasse as histórias que ouvi na infância.

Outra coisa que me chamou a atenção foi a presença das mulheres, ainda que raras. Se a romaria era dos homens, não havia motivo para elas estarem lá. Constatei, do alto da minha sabedoria de constatar coisas infundadas, que o papel delas era testar a fé dos romeiros com a exibição de glúteos cobertos por lycra. Nesse quesito fui reprovado. Não me lembro da homilia, mas recordo-me perfeitamente de belas formas femininas.

Outras mulheres que chamaram a atenção, não só a minha mas também de outros romeiros, eram as funcionárias de um bordel que saíram para conferir a movimentação. Algumas ovelhas chegaram a se desgarrar do rebanho, retornando quando descobriram o valor do inferninho. “Ta doido, quatro reais para entrar. Muito caro”, disse umas delas a seus parceiros de caminhada.

Se as primas da casa de saliência não foram capazes de interromper minha caminhada, uma outra mulher interrompeu o fluxo das minhas idéias por um bom tempo. Quem caminha ou corre sozinho sabe da introspecção proporcionada pela atividade. Eu estava só e caminhava refletindo a respeito da vida, das atitudes que tomo ou tomei, de maneiras de ser um cara melhor. Foi quando olhei para o lado e vi no alto de um barranco uma casa boa, de construção sólida, imponente até, com mais de um carro na garagem mal iluminada. Ao lado de um deles pude ver a silhueta feminina, absorta a observar o movimento na avenida. A imagem me perturbou. Quem era aquela pessoa que assistia a tudo sozinha, quase escondida na garagem da casa? Uma trezena de possibilidades caíram sobre minha cabeça. Pensei em acenar, tentar conhecê-la, para cair na real e lembrar que aquilo tudo não era um filme cult e provavelmente a história da moça fosse tão ordinária quanto a minha.

Na mesma hora em que ela saía da minha cabeça o Convento surgia não muito longe dali. Estávamos chegando. Minhas panturrilhas doíam levemente, a boca estava seca e o estômago implorava por um quitute. Faltava pouco, muito pouco para o mito dos romeiros beberrões se dissolver feito sonrisal na água fria. Eu vi jovens, bebê de colo, homens de idade. Gente em cadeira de roda, gente manca e gente com os membros perfeitos, uns maltrapilhos e outros com roupas caras, uns pensativos, outros verborrágicos, vi camisa da seleção brasileira, do Flu, do Fla, do Botafogo e do Sepultura, vi até um gay e um travesti atravessando a pista em sentido contrário ao da multidão.

Só não vi romeiro bebendo.

Na volta para casa, já no ônibus, reconheci um senhor da romaria. Lembro-me que andava cabisbaixo, circunspecto. Dentro do coletivo estava diferente. Parecia mais solto, relaxado. Continuava com uma das mãos ocupadas. Mas não era com vela. Levava uma latinha de Skol.

Mal pude disfarçar a alegria.

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